segunda-feira, 29 de março de 2010

Primeira história - Câncer




Minha primeira história aqui.


Câncer

10 de setembro, 2005

Ainda me lembro de todas as palavras já escritas neste diário. Lembro-me de todas as angústias que essas páginas amarelas já foram obrigadas a receber. Lembro-me de todas as palavras ditas, de todas as palavras pensadas e de todas que deviam ter sido esquecidas.

Lembro-me daquele dia, daquele maldito dia que eu descobri que tinha uma das piores doenças do mundo, mesmo tendo apenas 13 anos. Lembro-me do preconceito. Lembro-me das dores. Lembro-me do meu cabelo caindo. Lembro-me da cirurgia, tal cirurgia que me encaminhou para a cura, mas que levou uma parte de mim.

Lembro-me de quando descobri a melhor coisa que o ser humano é capaz de construir, a amizade. Lembro-me das risadas. Lembro-me do Jesse. Lembro-me da Jane. Lembro-me do Jesse + a Jane. Lembro-me das velas que tive que aturar.

Lembro-me das lágrimas da Jane que tive de enxugar. Lembro-me da primeira tentativa, lembro-me da segunda tentativa, lembro-me da terceira tentativa e lembro-me da dura desistência. Lembro-me da minha solução, lembro-me do bebê que carreguei para os meus amigos, lembro-me dos nove meses, lembro-me do parto.

Lembro-me da felicidade, lembro-me do amor, lembro-me dos pequeninos olhos da menininha mais esperada do mundo. Lembro-me da sua primeira palavra: papa. Lembro-me da sua segunda palavra: mamã. Lembro-me da sua terceira palavra: titia.

Lembro-me de tudo isso, e se em algum momento eu me esqueci de alguma coisa, bastava eu folhear esse velho caderno que me lembraria novamente de tudo.

Agora o câncer voltou, mas desta vez nem uma cirurgia, nem um afeto, nem aquela forte amizade bastariam para me distanciar da morte.

Relendo esse caderno eu vejo que apesar de tudo, apesar dos choros, apesar da doença, minha vida não foi pior nem melhor do que a de ninguém. Ela apenas foi a minha vida, que não podia ser vivida por ninguém menos que eu e não me arrependo de nada que fiz com ela. Eu apenas agradeço, agradeço por tudo, agradeço por ter tido a chance de aprender com a própria vida o que é viver.

Nesta cama de hospital a única coisa que eu tenho para dizer é adeus. Não um adeus de até nunca mais e sim um adeus de até o dia em que nossos caminhos tiverem que se encontrar novamente.


Adeus Mark, continue guardando muito bem a minha vida.

FIM

Pergunta: quem vocês acham que é Mark? Comentem.

By: Lê

Um comentário:

  1. *assoa o nariz* *enxuga as lágrimas * *sem palavras* MALDITA, TA VENDO O QUE VC FEZ COMIGO?! Eu, eu, eu *soluça* eu achei essa ic simplesmente linda, dramática (num bom sentido). Vc alcançou o objetivo, se era consegui me fazer chorar. A propostio, eu sei quem é Mark: é o diário... MUAHAHAHAHAHA! Ta me devendo um chocolate e um homi. u_u

    ResponderExcluir